Realizado o segundo turno das Eleições de 2018, a população
brasileira se coloca perante o resultado encontrado nas urnas de várias
maneiras: na atitude silenciosa ou exaltada das pessoas, na discussão serena ou
acalorada dos grupos, na posição respeitosa ou agressiva dos usuários das redes
sociais, na divulgação objetiva ou tendenciosa dos meios de comunicação social,
na leitura sensata ou corporativista da classe política, na palavra opinativa
ou fundamentada dos analistas políticos, na interpretação parcial ou objetiva dos
institutos de pesquisa de opinião pública. Nessa matéria e nesse universo
humano, nada é consensual, obviamente, em razão da pluralidade de pontos de
vista, de convicções. Ciente de seu direito e consciente de seu dever, a Igreja
se pronuncia perante realidades terrestres e temporais porque “as coisas
terrenas e aquelas que na condição dos homens transcendem este mundo, unem-se
estreitamente, e a mesma Igreja usa os bens temporais à medida que sua própria
missão o exige. (...) Além disso é justo que possa, sempre e em toda parte,
pregar a fé com liberdade verdadeira,
ensinar a sua doutrina social, exercer livremente a sua missão entre os homens
e ainda emitir juízo moral, também sobre as realidades que dizem respeito à
ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a
salvação das almas, empregando todos os recursos, e somente estes, que estão de
acordo com o Evangelho e com o bem de todos, conforme a diversidade dos tempos
e das situações.” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n.76),
(GS, n.76). Esse é o ensinamento deste Documento do
Concílio Vaticano II (1962/1965), “sobre a Igreja no mundo de hoje”.
O Concílio Vaticano II aborda a
relação entre a “Comunidade Política” e a Igreja, nesses termos: “Principalmente
onde vigora a sociedade pluralística, é de grande importância que se tenha a
conveniente consideração da relação entre a comunidade política e a Igreja:
claramente se distinga entre as atividades que os fiéis, isoladamente ou em
grupos, guiados pela consciência cristã, executam em seu nome como cidadãos e
as que realizam em nome da Igreja, juntamente com os pastores. A Igreja que, em
razão da sua finalidade e competência, de modo algum se confunde com a
comunidade política e nem está ligada a nenhum sistema político, é ao mesmo
tempo sinal e a salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. Cada uma
em seu próprio campo, a comunidade política e Igreja são independentes e autônomas
uma da outra. Ambas, porém, embora por título diferente, estão a serviço da
vocação pessoal e social dos mesmos homens. Tanto mais eficazmente executarão
para o bem de todos este serviço, quanto melhor cultivarem entre si a sã
cooperação, consideradas também as circunstâncias dos tempos e lugares. (...)
Pregando a verdade evangélica, e iluminando todos os setores da atividade
humana pela sua doutrina, pelo testemunho dos fiéis cristãos, a Igreja respeita
e promove também a liberdade política e a responsabilidade dos cristãos. (GS,
n.76)
Como ensinam os Padres Conciliares,
a Igreja, guiada pela sabedoria divina, revelada ao longo dos milênios, é uma
presença identificada por sua palavra iluminadora, de conformidade com os
“lugares e tempos”, como no “aqui e agora” da vida brasileira. “Em virtude de
sua missão que é iluminar o mundo inteiro com a mensagem evangélica e reunir em
um único Espírito todos os homens de todas as nações, raças e culturas, a
Igreja torna-se o sinal daquela fraternidade que permite e consolida um diálogo
sincero. Isto, porém, requer, em primeiro lugar, que promovamos no seio da
própria Igreja a mútua estima, respeito e concórdia, admitindo toda a
diversidade legítima, para que se estabeleça um diálogo cada vez mais frutífero
entre todos os que constituem o único Povo de Deus, sejam os pastores, sejam os
demais cristãos. O que une os fiéis é com efeito mais forte do que aquilo que
os separa. Nas coisas necessárias reine a unidade, nas duvidosas a liberdade, em
tudo a caridade”. (GS, n.92)
A Igreja no Brasil se pronunciou,
em muitas ocasiões, como no curso da campanha eleitoral, e o fará sempre,
através da CNBB e de cada Bispo, em sua respectiva Diocese. Nessa fase de
transição, com o término e a proximidade do início de mandatos, nos poderes
executivo e legislativo, nos âmbitos federal, distrital e estadual, a sua palavra
proclama a necessidade de “um diálogo sincero” entre os brasileiros. A palavra que
a Igreja dirige aos fiéis vale para os cidadãos e cidadãs: aquilo que une os
brasileiros “é com efeito mais forte do que aquilo que os separa.” Na verdade,
o sentimento de unidade nacional está acima de ideias e de cores partidárias
que falaram à mente e ao coração dos brasileiros, racional e emocionalmente,
durante o período eleitoral. Em qualquer situação, o Brasil deve ser visto
sempre como um País de todos.
Dom Genival
Saraiva
Bispo Emérito de
Palmares - PE
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