Voluntário da Festa da Vitória Régia, seja qual for a tarefa que lhe tenha sido destinada, é sinônimo de trabalho duro e prazeroso, ao mesmo tempo. Ele abre mão do seu descanso de fim de semana, com o intuito de ajudar pessoas necessitadas que não são parentes, nem aderentes dele. Nesse evento, todos são iguais. Não existe o melhor, o mais ou menos importante entre eles. Quer dizer, não existia até este ano, quando entre os mais de mil ajudantes surgiu um quarteto formado por Camila, Gerlane, Gisele e Olímpia. Elas são ex-alunas da Casa da Criança Marcelo Asfora. No passado, estavam no bloco das beneficiadas. Agora, na ala dos benfeitores, atuando como felizes vendedoras na Barraca dos Docinhos. Tentando devolver o que de graça receberam.
As quatro têm histórias e percepções semelhantes. Moradoras de comunidades de baixa renda. Mãe doméstica provedora do lar. Dinheiro curto que nem sempre dava para pegar o ônibus. Encanto com a forma respeitosa como eram tratadas por professores e funcionários da Escola. Aulas de croché, ponto de cruz, informática e inglês, práticas que viriam a usar no futuro. Direito igualitário na quadra de esportes como o de jogar futebol, “para infelicidade dos meninos”, dizem elas.
“Até hoje eu sinto o cheiro da comida daqui. Do maltado e do cuscuz com sardinha de tia Marlene”, revela Gerlane Lima, 28 anos, assistente administrativa, portadora de dois diplomas universitários. Emocionada, ela sai desfiando coisa por coisa do que viveu. “O que aprendi nas aulas de croché me ajuda bastante. Faço e vendo peças por aí. Lembro de tia Mônica que ensinava a fazer bordados com ponto de cruz. Tínhamos aula de inglês e informática. Tínhamos tudo. Aqui eu estudava e fazia o que toda criança gosta de fazer, eu brincava”.
Gisele Lima Sales, 24 anos, casada, é irmã de Gerlane. “Muitas vezes, vínhamos a pé de Apipucos para a Casa da Criança. Nem sempre nossa mãe tinha o dinheiro da passagem de ônibus. Tinha motorista que abria a porta e nos trazia assim mesmo. Eu gostava tanto daqui, de dona Isabel, que eu dormia cedo só para amanhecer logo e voltar para a Escola”. Já com os olhos cheios d'agua, ela completa a frase, “aprendi aqui a conhecer e lidar com as pessoas. Antes eu era travada. Fui sempre tratada com carinho e respeito”.
A vivência de Olímpia Rodrigues, 28 anos, com as obras sociais da Paróquia de Casa Forte começou quando ela ainda era um bebê de dois meses e foi recebida na Creche Menino Jesus. “Minha mãe precisava trabalhar, para sustentar meu irmão e eu.” Ficou na creche até os sete anos de idade, depois foi transferida para a Casa da Criança. “ Eu só guardo lembranças boas. Fui goleira no time de futebol e a borboletinha no pastoril. Gostava das professoras. Tia Roberta puxava muito e dizia que estava pensando no nosso futuro, para não sofrermos mais tarde”. Olímpia fez Processos Gerenciais, no IBGM, foi estagiária do CPRH, trabalhou como vendedora e recepcionista e, agora, está estudando para concurso público.
Camila Revoredo, 28 anos, presta serviço no Tribunal de Justiça do Estado, como contratada de uma empresa terceirizada. Ela não muda uma linha do que disseram as amigas. “A Casa da Criança foi muito importante na minha vida. Aprendi muito. Não tinha diferenças entre nós”, concluiu. Elas não perderam o contato, com o passar dos anos. Comunicam-se pela rede social. Gerlane é contundente, ao afirmar que levou para a vida “o que aprendi na Casa da Criança. Quem não conseguiu foi por desvio de caráter. Infelizmente”.
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